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Com o advento e a evolução das terapias de reposição hormonal, é possível  retardar e minimizar os sinais e os sintomas provocados pelo passar dos anos – especialmente a diminuição da libido e as disfunções que dificultam e até impedem a consumação das relações sexuais. Desde 1998, por exemplo, o sildenafil, substância que atua contra a disfunção erétil masculina, provocou uma verdadeira revolução entre os homens que convivem com o problema.

Paralelamente à modernização dos medicamentos, os novos tempos trouxeram também mudanças de comportamento entre aqueles que já passaram dos 60 anos, o que inclui desde mudanças na maneira de se vestir, passando pela preocupação com a saúde e a boa forma por meio da prática regular de exercícios físicos e pelo interesse pela vida digital – leia-se conectar-se à internet, participar de redes sociais, usar smartphones e outros gadgets.

Hoje em dia, aqueles que perderam seus parceiros, seja por separação ou por morte, se permitem voltar a sair para conhecer novas pessoas e, não raro, engatam um relacionamento romântico ou sexual depois dos 60 anos. Porém, a geração da melhor idade, que já se acostumou às pílulas contra a disfunção erétil, ainda não aprendeu a usar preservativos para se proteger contra as DST – afinal, a AIDS não existia quando eles eram jovens.  Esse público costuma encarar a camisinha como método contraceptivo. Por isso, por já estarem na menopausa, muitas mulheres acreditam que podem prescindir de seu uso.

Acontece que esse comportamento está fazendo com que a taxa de infecção pelo vírus HIV cresça entre a população dessa faixa etária. Dentre todos os pacientes que vivem com HIV/AIDS, a faixa etária dos idosos pode parecer pequena. Porém, como representam um dos grupos que mais cresceu em incidência, isso chegou a preocupar o Ministério da Saúde a ponto do órgão criar uma campanha de prevenção de DST para a terceira idade no ano de 2008.

Porém, parece que não surtiu muito efeito. Segundo o Boletim Epidemiológico de DST/AIDS, divulgado anualmente pelo Ministério da Saúde, em 2004 havia 362.364 pessoas infectadas, sendo que aquelas acima de 60 anos representavam 8.339 casos. Já em 2014 o número de casos totais passou para 757.042, sendo que 23.271 eram pacientes acima de 60 anos.

O grande problema é que muitos médicos ainda têm uma postura antiquada ao atender esses pacientes. Por acreditar que idosos não têm vida sexual ativa não abordam temas relacionados à sexualidade durante as consultas e não orientam seus pacientes a se prevenir da forma correta. Há também casos em que, ao se deparar com um paciente com alguma doença que pode estar relacionadas à infecção pelo vírus HIV – pneumonia, por exemplo –, não investigam o problema a fundo, porque consideram o consideram “normal” para a idade. E aí, quando o vírus é descoberto, pode ser tarde.

A dermatologista e gerente médica do Centro de Referência do Idoso da Zona Norte de São Paulo Andrea Sayaka Masada cita um exemplo de parceria que pode mudar isso: “Em conjunto com a área Técnica de Saúde do Idoso, o Programa de DST/AIDS da Secretaria de Saúde de São Paulo tem se organizado para fornecer orientação técnica aos profissionais de saúde da rede pública. Nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), bastante frequentadas pela população idosa, pode-se promover discussões sobre sexualidade, diversidade sexual, prevenção, acesso a insumos (preservativos masculinos, femininos e gel lubrificante) e oferecer testagem para HIV, hepatites B e C e sífilis”.

Ela acrescenta que a preparação dos profissionais de saúde para o atendimento adequado ao idoso deve ser prioridade, sendo necessária a ampliação de sua visão em relação aos indivíduos com mais de 60 anos, uma vez que sexualidade não tem idade. A falta de conhecimento aliada ao despreparo leva os profissionais a infantilizar o idoso, negando sua sexualidade e a possibilidade do uso de drogas, por exemplo. Quando aparecem questões ligadas à sexualidade podem ocorrer atitudes preconceituosas, comportamentos de julgamento e de discriminação. É fundamental perceber e aceitar a realidade da população idosa e, sobretudo, o seu direito de envelhecer com saúde e qualidade, em todas as áreas da vida.

John Verrinder Veasey, assessor do Departamento de DST/AIDS da SBD e responsável pelo ambulatório de DST da Santa casa de SP