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Quando o assunto é varíola do macaco e pele são inúmeras as dúvidas que surgem. Por exemplo, eu posso pegar a doença em piscina, banheiro público ou provador de roupa? Como são as lesões de pele dessa doença também chamada de monkeypox ou MPX? Elas desaparecem em quanto tempo? Para explanar essas questões, conversamos com a médica dermatologista Dra. Camila Arai Seque. 

Como a varíola do macaco, ou monkeypox, pode afetar a pele?

Além dos sintomas gerais virais, como febre, dores musculares, adinamia e linfadenopatia, a pele é frequentemente acometida pela doença, sendo um importante marcador diagnóstico da MPX.

Quais são as características mais comuns das lesões de pele causadas pela doença?

Na forma clássica, as lesões de pele costumam iniciar com uma mancha avermelhada que, após 1-2 dias, evolui para uma pápula infiltrada (lesão sólida sobrelevada), e, em 1-2 dias, surge uma vesícula sobre o centro deprimido dessa pápula, que, em mais 1-2 dias, pode evoluir para uma pústula umbilicada (conteúdo purulento), e, finalmente, chega a fase de crosta, em 5-7 dias. O processo todo das lesões cutâneas é lento, podendo durar de 2-3 semanas.

Na epidemia atual, os vários estágios das lesões podem coexistir e há maior frequência delas na região genital, com predomínio na população masculina de HSH (homens que fazem sexo com homens) e portadora do HIV.

Tais lesões coçam ou doem?

Especialmente na região genital e perianal, as lesões na fase de úlcera são bastante dolorosas e podem cursar com processos inflamatórios locais, como proctite e diarréia.

Elas aparecem em quais regiões do corpo?

Na forma clássica, as lesões têm progressão crânio-caudal – surgem na face, progridem para o tronco e, por fim, para os membros inferiores. Na epidemia atual, há predomínio de lesões genitais e perianais, associadas ou não a lesões no restante da pele.

São poucas ou muitas?

A quantidade de lesões da varíola do macaco é variável. Desde algumas pápulas, vesículas e pústulas isoladas até quadros disseminados.

A transmissão se dá pelo contato direto com as lesões de pele da pessoa infectada?

A transmissão entre humanos ocorre, principalmente, por meio de contato pessoal com as lesões de pele ou com as secreções respiratórias de pessoas infectadas, bem como por objetos recentemente contaminados. O vírus também pode infectar as pessoas por meio de líquidos corporais. 

Trata-se de uma doença que exige, geralmente, contato muito próximo e prolongado para a transmissão de pessoa a pessoa, por exemplo: face a face, pele a pele, boca a boca, contato boca a pele, inclusive durante a relação sexual.

Posso pegar varíola do macaco se eu provar roupas em uma loja? E ao utilizar o banheiro público? E em praias ou piscinas?

Não. Trata-se de uma doença que exige, geralmente, contato muito próximo e prolongado para transmissão de pessoa a pessoa.

Se estiver com a doença, é melhor que eu mantenha as lesões cobertas? Por qual motivo?

Sim. Até que cicatrizem totalmente, as lesões de pele apresentam vírus viável, que pode contaminar outras pessoas que tenham contato direto com a própria lesão ou seus fluídos e secreções.

Quais cuidados preciso ter com os itens pessoais do infectado?

Roupas, roupas de cama, toalhas ou objetos, como utensílios/pratos contaminados com o vírus, pelo contato com uma pessoa infectada, também podem infectar outras pessoas. Portanto, tais itens devem ser separados e higienizados separadamente.

Qual o cenário atual da varíola do macaco? 

Em 1970 ocorreu, na República Democrática do Congo, o primeiro caso de Monkeypox (MPX) em humanos. Desde então, inúmeros surtos subsequentes fizeram a doença se tornar endêmica (recorrente em uma região) na África, com o aumento progressivo da incidência ao longo das décadas. Nesse cenário, o contágio acontece, principalmente, por contato com o reservatório animal, sendo rara a transmissão inter humana.

O primeiro surto em humanos fora da África ocorreu em 2003, com cerca de 47 casos em 11 estados norte-americanos, decorrentes da importação ilegal de um lote de roedores contaminados com o vírus.

Desde 2017, foram registrados casos de MPX importados de pessoas provenientes da costa oeste da África em países como Reino Unido, Israel, Cingapura e EUA. No entanto, o atual surto de MPX é o mais importante desde o primeiro registro da doença em humanos; a ponto de a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarar a MPX uma “emergência em saúde pública de preocupação internacional” em 23/07/2022, época em que foram registrados mais de 14 mil casos em 71 países diferentes.

Há diversos fatores que explicam o porquê da atual epidemia de MPX. Especialistas afirmam que os sinais para a disseminação mundial eram evidentes: aumento gradativo do número de casos ao redor do mundo, pequenos surtos em diferentes países, maior circulação de pessoas para as áreas endêmicas, casos exportados para outros continentes com maior frequência, que, possivelmente, geraram a cadeia de transmissão da epidemia atual. 

Outro fator relevante é o momento em que esta epidemia ocorre: logo após o afrouxamento das medidas de restrição necessárias na pandemia pela Covid-19. O aumento do número de viagens internacionais e de encontros presenciais sociais pode ter favorecido a rápida disseminação por cidades, países e continentes. Além disso, a vacinação para a varíola, que confere uma proteção cruzada à MPX, foi interrompida no final da década de 70, desde que a varíola foi erradicada. Portanto, toda população jovem (abaixo de 40 anos) é totalmente suscetível à infecção viral pela MPX, uma vez que não recebeu o imunizante na infância. 

No entanto, a possibilidade de mutação do vírus parece improvável, dado que ele é um vírus DNA, ou seja, que possui maior estabilidade gênica e baixo risco de mutações. O sequenciamento genético dos vírus que circulam atualmente corrobora essa hipótese, já que são bastante semelhantes às análises anteriores.