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Saiba o que é, quais são os sintomas, as diferenças entre linfomas cutâneos de células b e t, os tratamentos e outras dúvidas recorrentes sobre a doença com o médico dermatologista Marcelo Sano.

 

– O que são os linfomas cutâneos?

Os linfomas são um grupo de câncer que se origina de uma célula do sangue, chamada linfócito. Os linfócitos fazem parte do nosso sistema de defesa. Eles aumentam em número em resposta a infecções e inflamações. Tais células podem originar linfomas quando começam a se proliferar de maneira anormal. Isso pode acontecer, principalmente, nos locais do corpo onde encontramos um maior número dessas células, como nos linfonodos, no trato gastrointestinal e na pele. No caso dos linfomas cutâneos, os linfócitos aberrantes se encontram somente na pele no momento do diagnóstico e em nenhum outro local do corpo. A presença desses linfócitos atípicos na pele são responsáveis pela origem da doença e das lesões cutâneas.

– Linfoma cutâneo de células B e T são a mesma coisa?

Os linfomas cutâneos podem se originar de três tipos de linfócitos diferentes: do linfócito T (que apresenta ação na destruição de células tumorais, infectadas por vírus e na regulação da resposta imune), do linfócito B (ação na produção dos anticorpos) e da célula ‘natural killer- NK’ (grânulos com enzimas para combate de células infectadas por vírus e células tumorais).  Cerca de 75% dos linfomas cutâneos se originam de células T (LCCT), sendo o subtipo mais comum a micose fungóide (60% dos casos de LCCT). Os linfomas cutâneos de células B (LCCB) correspondem a 20% dos casos, sendo o linfoma centro-folicular e o linfoma da zona marginal os mais frequentes.  Os linfomas de células NK são bastante raros e estão, em muitos casos, associados à infecção pelo vírus Epstein-Barr.

– Quais são os sintomas?

Os LCCT do tipo micose fungóide se apresentam como lesões avermelhadas e descamativas localizadas nas áreas protegidas do sol (quadril e mamas), podendo ser associadas à coceira. Em sua fase inicial, são comumente confundidas com eczemas (dermatite de contato ou dermatite atópica) e outras doenças inflamatórias, como a psoríase. Conforme a doença evolui, podem surgir áreas espessas na pele, nódulos ou aumento na extensão da superfície de pele acometida. Em alguns casos, principalmente em crianças, a doença pode aparecer como manchas mais claras que a pele normal. Já os LCCB do tipo linfoma centrofolicular e o linfoma da zona marginal se apresentam como nódulos avermelhados e endurecidos. Eles afetam, principalmente, a cabeça e as porções mais altas do tórax e do dorso.

– Quem está mais propenso a desenvolver a patologia?

Os linfomas cutâneos têm maior frequência a partir dos 50 anos de idade, sendo o pico entre os 55-70 anos. Raramente são vistos em crianças. Em relação ao sexo, pacientes masculinos são mais propensos a desenvolver a doença. A micose fungoide é mais vista em pacientes negros, enquanto o linfoma centrofolicular é mais comum em brancos não hispânicos.

– Quais são os tratamentos disponíveis no momento?

Os tratamentos disponíveis para os linfomas cutâneos variam conforme o subtipo, a localização e a extensão da doença. Uma equipe multidisciplinar pode ser necessária, ao longo do tratamento, envolvendo dermatologistas, hematologistas, radioterapeutas e cirurgiões. Nas fases iniciais são realizadas terapias dirigidas para a pele, incluindo tratamentos tópicos (principalmente corticoide, no Brasil), fototerapia (ultravioleta A e B) e radioterapia. Em casos mais avançados, pode ser necessária a terapia sistêmica com quimioterapia, terapia-alvo ou imunoterapia. Em casos refratários à terapia sistêmica, o transplante de medula óssea é uma opção a ser avaliada. Já a cirurgia aparece como tratamento para casos selecionados em que há lesão única ou poucas lesões.

– Tem cura?

Os tipos de linfomas cutâneos mais comuns são, na maioria dos casos,  indolentes, ou seja,  com progressão lenta para casos avançados. Assim, grande parte do tratamento pode ser direcionado ao controle da doença e dos sintomas. O paciente pode apresentar períodos livres de doença, mas raramente definindo-se cura completa.

– O que o paciente precisa ficar atento para procurar ajuda médica precocemente em casos como o de linfomas cutâneos?

Os linfomas cutâneos são facilmente confundidos com doenças comuns, como eczemas, psoríase ou reações alérgicas a medicações, principalmente em suas fases iniciais. Dessa maneira, o paciente deve estar atento a qualquer lesão de pele recorrente que não melhore com os tratamentos indicados. É importante frisar que qualquer lesão de pele nova, que se destaque das outras do corpo, deve ser avaliada por um dermatologista.

 

O artigo foi desenvolvido com o auxílio técnico de Marcelo Sano, médico dermatologista graduado em medicina pela Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), médico coinvestigador do centro de pesquisa clínica Medcin – Instituto da Pele (2016) e membro do Grupo Brasileiro de Melanoma (GBM).