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Existem inúmeras doenças que podem ser passadas de animais para humanos. De tempos em tempos a mídia fala a respeito de uma específica – e de difícil diagnóstico: a leishmaniose tegumentar americana, que é transmitida por um tipo de pernilongo. Conversamos com o dermatologista Silvio Alencar Marques, professor titular de Dermatologia da Faculdade de Medicina de Botucatu- UNESP, sobre a patologia e preparamos um dossiê para ajudar médicos e pacientes a entender melhor o problema que está presente em território nacional.

O que é a leishmaniose?

A leishmaniose é uma doença infecciosa causada por um parasita do gênero Leishmania.  São três os tipos de suas possíveis manifestações: 

  • Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA): a mais comum no Brasil; 
  • Leishmaniose Visceral: mais frequente nos estados do Norte e Nordeste, do Brasil, e na Índia;
  • Leishmaniose Tegumentar do Velho Mundo: ocorre em países do Oriente Médio e da região mediterrânea da Europa.

Como a pessoa contrai a Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), que é a mais comum no Brasil?

O contágio é por meio de um vetor chamado flebotomíneos (um tipo de pernilongo que habita áreas de florestas primárias e secundárias). O indivíduo, ao penetrar nesse ambiente (por trabalho ou a passeio), pode ser picado e adquirir a doença. Uma lesão (ferida) vai se formar no local da picada (uma ou várias, mas, no geral, são poucas lesões). A ferida que se forma pode até cicatrizar sozinha, mas isso não significa que o paciente esteja curado.

Então o que fazer para evitar o contágio?  

Primeiro é saber se determinada região é endêmica para a leishmaniose. Ou seja, existem relatos de casos na região. De qualquer maneira, sempre que entrar em área de mata o indivíduo (adulto ou criança) deve estar vestido com roupas que cubram a maior parte do corpo. E, na área não coberta, usar repelente. Mosquiteiros e telas ajudam na proteção noturna. Não há, até o momento, uma vacina contra a LTA.

A doença tem cura? Quais são os principais tratamentos? 

Existe cura. É importante que o diagnóstico seja feito o mais cedo possível. O tipo de tratamento depende da gravidade do caso. Pela regra, a medicação de primeira escolha utilizada é o “Antimoniato de N-metilglucamina” (distribuído pelo Ministério da Saúde). 

Quais são os principais sintomas da LTA? 

O que chama atenção é a ferida na pele (úlcera) que, no geral, é arredondada e localizada nos braços, pernas ou na face (áreas não cobertas pela roupa). Ela começa como se fosse uma “espinha”, mas não responde ao uso de antibiótico local e, aos poucos, se transforma em uma ferida “brava” que vai cicatrizar sozinha depois de muitos meses – ou quando se usa o tratamento correto. O paciente pode não estar curado da leishmaniose mesmo se a ferida cicatrizar sozinha, pois o parasita pode permanecer viável no corpo e reaparecer depois de muitos anos no septo nasal, céu da boca e pele da face.

Como é feito o diagnóstico da doença? 

O diagnóstico depende de existir a lesão compatível com a hipótese de leishmaniose, história de viagem ou trabalho em área de risco. A confirmação depende da visualização do parasita no exame histopatológico (no fragmento da biópsia), ou no raspado da lesão.  Testes complementares existem, mas são pouco acessíveis ou não mais disponíveis.

Bichos de estimação podem passar a leishmaniose tegumentar para humanos? 

Não. A LTA depende de um vetor que não existe no meio urbano. Porém, há evidências de que o vetor tem se adaptado à áreas de peridomicílio no meio rural. Aí o ciclo animal infectado – vetor – paciente adulto ou criança pode ocorrer, o que é o descrito como regra para a Leishmaniose Visceral (forma grave, diferente da Tegumentar). Mas na LTA eu diria que esse quadro é uma raridade. 

Existem regiões específicas onde é mais “fácil” contrair a leishmaniose tegumentar?

Sim. Historicamente, no estado de São Paulo a LTA ocorre mais no Vale do Ribeira, Litoral Norte, algumas áreas do Vale do Rio Tietê, mas são casos pouco frequentes.

Se quiser se aprofundar mais no assunto, acesse o artigo especial divulgado em “Anais Brasileiros de Dermatologia”, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, cujo o título é: “Impacto das mudanças ambientais na Dermatologia”, de autoria de Vidal Haddad Junior, Adriana Lúcia Mendes, Carolina Chrusciak Talhari e Hélio Amante Miot.