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Olivier Duperrex, Francesco Tommasini, Yannick D. Muller.

Center for Primary Care and Public Health (Unisanté), Lausanne, Switzerland (Duperrex); Lausanne University Hospital and University of Lausanne, Lausanne, Switzerland (Tommasini, Muller).

JAMA network Open 2023;6(2):e2254298. doi:10.1001/jamanetworkopen.2022.54298

A prevalência da UCE ao redor do globo varia entre 0,5 a 1% da população geral, ocorrendo predominantemente entre mulheres (em torno de 70%), com média de idade do início da doença entre 20 aos 40 anos.1 A Covid-19 tem por si só demonstrado agravo nos casos de UCE pré-existentes a doença aguda segundo diferentes autores ao redor do planeta. Estudo epidemiológico brasileiro de doenças inflamatórias imunomediadas, entre as quais a UCE, revelou agravo do comportamento da urticária em na Covid-19 aguda de forma leve a intensa em 38% dos 109 doentes que responderam ao questionário eletrônico e também entre 38% deles na pós-Covid-19 (Covid-19 longa, até 12 semanas após cessarem os sintomas da infecção aguda).2 No artigo dos autores suíços, Duperrex et al.3, o qual iremos analisar, apenas 11% (9 de 80 doentes) referiram piora da UCE após a infeção aguda pela Covid-19.

Em relação ao efeito de vacinas imunizantes contra doenças infecciosas e agravos no comportamento da UCE, em um estudo brasileiro sobre o comportamento da UCE em 43 pacientes que receberam a vacina contra a febre amarela (vírus vivo atenuado), sendo 27 deles em uso de omalizumab e 16 sem uso de omalizumabe, não se detectou qualquer agravo da UCE em ambos os grupos, exceto em 1 doente em uso do omalizumabe, onde houve piora do componente do angioedema.4

Analisando-se os dados sobre o surgimento da UCE após a vacinação contra a Covid-19, com os imunizantes da Moderna ®, Pfizer-BioNTech® e Janssen®, em doentes com UCE na Suíça, Duperrex et al.3 observaram uma ocorrência proporcionalmente maior de casos de UCE com início após o reforço da vacinação contra a Covid-19: em 72 (90%) de 97 doentes com histórico prévio de urticária, no cantão (área administrativa) de Vaud na Suíça, houve relato de início da UCE e em 636 (81%) de 782 doentes de outros cantões da Suíça. O tempo médico entre a vacinação e o início da UCE foi de 10 (8-12) dias entre os doentes do cantão de Vaud e 11 (9-13) dias entre os doentes de outros cantões da Suíça. Comparando-se o risco relativo de se desenvolver UCE após a vacina da Covid-19, entre os que receberam o imunizante da Pfizer-BioNTech® e os que receberam os da Moderna®, o risco relativo de desenvolver UCE após receber o imunizante da Moderna® foi 20,8 vezes maior (IC95%, 6,5-66,0) entre os pacientes do cantão de Vaud e 16,1 vezes maior (IC95%, 10,8-24,0) nos pacientes dos outros cantões da Suiça. Por fim, os autores especulam que o maior risco de desenvolver UCE com o imunizante da Moderna®, pode ser talvez explicado por este imunizante conter maior dose de RNA mensageiro do Spike do SARS-CoV-2 e assim ser mais imunogênico, do que a vacina da Pfizer-BioNTech®, além do que possa ser um gatilho inespecífico imune para desencadeamento da UCE em doentes predispostos a doença.3

Apesar do risco de desenvolver-se UCE ou tê-la agravado após a imunização contra a Covid-19, é de minha opinião pessoal, de que após as 13.307.892.890 doses de vacinas contra a doença administradas em todo o globo5, e frente ao número de 6.862.516 óbitos registrados pela doença, em especial grande parte deles, antes da imunização com as vacinas disponíveis, cabe concluir que os benefícios da imunização com as vacinas da Covid-19 superam os eventuais eventos adversos que elas possam causar. No caso da UCE, caso ela se exacerbe ou surja após a imunização com as vacinas, a doença pode ser tratada com os esquemas preconizados de fármacos como anti-histamínicos em doses otimizadas, omalizumabe e outras medicações como a ciclosporina e eventualmente imunomoduladores como a hidroxicloroquina, dapsona, colchicina, entre outras.6

 

Referências:

  1. Martins CF, Morais KL, Figueroa P, Dias NF, Valente NS, Maruta CW, Criado PR. Histopathological and clinical evaluation of chronic spontaneous urticaria patients with neutrophilic and non-neutrophilic cutaneous infiltrate. Allergol Int. 2018 Jan;67(1):114-118. doi: 10.1016/j.alit.2017.06.012.
  2. Criado PR, Ianhez M, Silva de Castro CC, Talhari C, Ramos PM, Miot HA. COVID-19 and skin diseases: results from a survey of 843 patients with atopic dermatitis, psoriasis, vitiligo and chronic urticaria. J Eur Acad Dermatol Venereol. 2022 Jan;36(1):e1-e3. doi: 10.1111/jdv.17635.
  3. Duperrex O, Tommasini F, Muller YD. Incidence of Chronic Spontaneous Urticaria Following Receipt of the COVID-19 Vaccine Booster in Switzerland. JAMA Netw Open. 2023 Feb 1;6(2):e2254298. doi: 10.1001/jamanetworkopen.2022.54298.
  4. Almeida LR, Criado RF, Criado PR, Ensina LF, Abdalla BMZ, Quaresma JAS. Adverse events of the yellow fever vaccine in chronic urticaria: evaluation of patients treated or not with omalizumab compared to healthy individuals. An Bras Dermatol. 2021 Jul-Aug;96(4):497-499. doi: 10.1016/j.abd.2020.09.009.
  5. Coronavirus Resource Center. John Hopkins University of Medicine. https://coronavirus.jhu.edu/map.html (acessado em 18/02/2023 as 12:21horas).
  6. Zuberbier T, Abdul Latiff AH, Abuzakouk M, Aquilina S, Asero R, Baker D, et al. The international EAACI/GA²LEN/EuroGuiDerm/APAAACI guideline for the definition, classification, diagnosis, and management of urticaria. Allergy. 2022 Mar;77(3):734-766. doi: 10.1111/all.15090.

 

Professor Doutor Paulo Ricardo Criado

Professor Livre-docente em Dermatologia pela FMUSP

Pesquisador Pleno do Centro Universitário FMABC