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Como você consegue identificar se uma criança tem dermatite atópica? Quais áreas do corpo ela aparece mais? Quais são os gatilhos que desencadeiam o problema? Há cura e como funciona o tratamento? Entrevistamos a dermatologista Silvia Souto Mayor para tirar essas e outras dúvidas dessa dermatose que causa muita coceira nos pequenos e preocupação nos pais.

 

RESP: Como eu consigo identificar os primeiros sinais da dermatite atópica em bebês?

Silvia Souto Mayor: Os primeiros sinais da dermatite atópica em bebês é o ressecamento da pele. Ela fica mais áspera e um pouco avermelhada. A face e o couro cabeludo são frequentemente acometidos, deixando o rosto do bebê com aspecto alterado, principalmente nas bochechas.

RESP: E em crianças?

SM: Nas crianças um pouco mais velhas, mas ainda em faixa etária escolar, além da testa e das maçãs do rosto, outro local bastante afetado são as dobras da pele. Por exemplo, entre o antebraço e o braço, região contrária ao cotovelo, pescoço, pálpebras e atrás do joelho. É curioso notar que na dermatite atópica o eczema (vermelhidão, placas ásperas e com coceira) é simétrico. Ou seja, acontece simultaneamente do lado direito e esquerdo do corpo.

RESP: O que pode desencadear o quadro de dermatite atópica?

SM: As lesões ou as crises, já que a dermatite atópica é uma dermatose que tem períodos de melhora e piora, são desencadeadas por fatores diversos, como mudança abrupta de temperatura, suor excessivo ou estresse emocional.

RESP: Quais são os tratamentos disponíveis no mercado, e para o segmento infantil, para melhorar as crises de dermatite atópica?

SM: Em relação ao tratamento, o ponto fundamental é manter essa pele hidratada, pois o quadro começa com um ressecamento de áreas como maçãs do rosto, testa e áreas de dobras. A pele da criança atópica é bastante seca, em geral, então usar hidratantes específicos, sem perfume e que consigam deixar essa pele lubrificada até o próximo banho da criança é essencial. Aliás, sobre os banhos: ele não pode ser demorado e nem com sabonetes muito agressivos. Quanto menos sabonete, melhor. O ideal é usá-lo apenas em locais necessários, como mãos, pés, área que a criança transpira muito e região da fralda.

RESP: Quais as regiões mais afetadas pela dermatite atópica entre crianças e bebês?

SM: As regiões acometidas mudam um pouco de acordo com a idade:

  • Bebês: couro cabeludo, testa e áreas extensoras, como perto do punho e antebraço, perna até o tornozelo;
  • Crianças: áreas de dobras, como joelho, antebraço, braço e pescoço;
  • Pré-adolescentes: lábios, pálpebras e mamilos.

RESP: Crianças com rinite e asma podem ter mais propensão ao desenvolvimento de quadros de dermatite atópica?

SM: Sim. A criança que tem dermatite atópica tem mais facilidade em desenvolver asma, bronquite, rinite alérgica ou vice-versa. Na grande maioria dos casos a dermatite atópica surge primeiro. Costumamos dizer que existe uma marcha atópica, ou seja, a pele é a primeira a ser acometida. Hoje sabemos que se conseguirmos melhorar a pele, a hidratando bastante, às vezes até é possível fazer com que a criança não desenvolva outras formas de atopia, como rinite, bronquite e asma.

RESP: O que fazer se a criança coçar a área com dermatite atópica? Quais são os malefícios?

SM: A coceira é o principal sintoma de dermatite atópica. Costumamos dizer que se não coça é porque não é dermatite atópica. O problema é que se a criança coçar a área, ela vai estimular cada vez mais a inflamação, pode se machucar e favorecer a infecção secundária sobre a lesão da dermatite. O que fazermos para a criança não coçar? A melhor coisa é manter a pele sempre hidratada. A segunda coisa é molhar o local com água morna ou fria ao perceber que a criança está coçando. Faça como se fosse uma compressa úmida e, posteriormente, passe um creme hidratante no local. Se a placa estiver inflamada, além do hidratante e da compressa, é necessário o uso de corticóides, com indicação médica.

RESP: Há relação entre o consumo de leite e a dermatite atópica?

SM: A relação com as alergias alimentares, como a intolerância à proteína do leite de vaca, pode estar relacionada com a dermatite atópica. Mas não é toda a criança com dermatite atópica que tem intolerância à proteína do leite. E nem toda a criança com dermatite atópica vai desenvolver alergia a outros alimentos, como o ovo ou o amendoim. Antes de remover os alimentos da dieta infantil, principalmente o leite, deve-se investigar se existe uma alergia à proteína do leite, através de profissionais da saúde e exames. Se não houver, não há motivos para suprimir o alimento.

RESP: Como os pais podem diferenciar a dermatite atópica de um ressecamento causado, por exemplo, por baixas temperaturas?

SM: A dermatite atópica é diferente de um ressecamento da pele. Se a pele está ressecada pelo frio, em geral, ela está ressecada como um todo, principalmente nas áreas expostas, fora da roupa. Na dermatite atópica existe o ressecamento, mas também o eczema, aquelas placas vermelhas que coçam e aparecem em locais característicos e simétricos. Ela não acomete o centro da face, poupando o nariz.

RESP: A dermatite atópica tem cura?

SM: Essa é sempre a pergunta dos pais. Eu digo que a dermatite atópica é muito mais comum na infância. Em alguns casos, desaparecem depois da adolescência, pois começa a aumentar a oleosidade da pele e o funcionamento do sistema imunológico. Ou seja, ela pode ser autolimitada e desaparecer do mesmo jeito que veio. Em alguns casos, ela pode ser mais persistente. Em outros, menos comum, pode aparecer após a adolescência. Em geral, ela tem tratamento que, se feito da melhor forma possível, pode controlar as crises, que ficam mais raras.

 

O artigo foi desenvolvido com o auxílio técnico da dermatologista Silvia Souto Mayor.