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O programa dominical de televisão “Fantástico” fez, recentemente, uma investigação internacional sobre o uso de uma substância proibida no Brasil, chamada Israderm. 

O “botox pirata”, como o Israderm ficou popularmente conhecido no país, é vendido como uma toxina botulínica “mais barata”. Ele é oferecido, portanto, como alternativa mais em conta para pacientes que querem manter a pele íntegra por mais tempo, reduzindo o aspecto de rugas e linhas de expressão. O problema é que não existe estudo ou documentação mostrando com exatidão o que está contido nesses pequenos frascos. E muito menos onde eles foram fabricados e embalados. Sem tais informações essenciais, a ANVISA proibiu a comercialização, distribuição, formulação, propaganda e o uso do controverso produto no país. 

Outra fake news envolvendo a substância ainda misteriosa é a sua origem. Quem o aplica fala que ele é um produto altamente tecnológico e seguro, produzido em Israel. Todavia, Israderm é o nome de uma empresa que personaliza produtos dermocosméticos no Oriente Médio. Nenhum dos itens de seu portfólio é injetável. Eles, inclusive, já comunicaram que tal “toxina botulínica” vendida no Brasil e também no Paraguai (onde a comercialização do produto é liberada) é uma fraude. 

Origem desconhecida

Ada Trindade de Almeida, dermatologista de São Paulo e autora de vários artigos e capítulos de livros sobre toxina botulínica, bem como membro da SBD e AAD, disse que há algum tempo colegas a perguntaram se ela conhecia o Israderm. “Falei que não. Perguntei então para uma colega dermatologista, de Israel, se ela conhecia. Ela me disse que essa toxina não existe lá. Aí já percebi que era fake. Eu, particularmente, não soube de alguém com complicações com o produto, além daquelas divulgadas na mídia. Mas a minha sugestão é de que se deve ter cuidado ao optar por um procedimento médico, porque o barato pode sair caro – para o médico e para os pacientes”, diz Ada. 

Infecção e necrose

As complicações pelo uso do Israderm, divulgadas pela mídia, incluem necrose de nariz e de outros pontos da face. “O botox pirata, recentemente proibido no Brasil, pela ANVISA, e com liberação, até então, no Paraguai, é realmente um produto sem informações exatas. Não existe bula ou um guia profissional a respeito dele, o que pode aumentar o risco de complicações pela migração do produto no corpo humano ou mesmo o risco de resultados em áreas indesejadas. Também foram relatados casos de infecção. E uma vez que o quadro infeccioso está instalado, ele pode levar, se não tratado, à necrose”, diz Rossana Vasconcelos, médica dermatologista especialista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, membro da SBD e da SBCD.

Cautela

Em relação ao Israderm ou qualquer outra substância que venha a circular pelo Brasil, Elisete Crocco, médica coordenadora do Setor de Acne e Cosmiatria da Clínica de Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, indica que os dermatologistas sempre chequem a procedência do material. “Muitas vezes aparecem representantes comerciais trazendo um produto que ainda não tem liberação pela ANVISA. E muitos divulgam como se o produto estivesse em pré-lançamento. Cabe aqui a reflexão de que nós, dermatologistas, somos responsáveis por aquilo que será injetado no paciente. Se órgãos regulatórios ainda não o liberaram, não é para usar”, diz Elisete. “Não é a primeira vez que observamos um produto como este, que não chegou pelas vias corretas no segmento dermatológico, e nem será a última. Para o desenvolvimento desse tipo de insumo levam-se anos, é um caminho difícil, demorado e criterioso. A ANVISA é muito rigorosa. Se o produto for muito barato, ou uma grande novidade, há de se desconfiar”, finaliza.