Nos últimos anos vem aumentando o número de pessoas que se consideram “com a pele sensível”, no Brasil e ao redor do mundo. Mas será que é possível desenvolver a sensibilidade cutânea com o passar do tempo? Entrevistamos a dermatologista Dra. Tatiane Curi para tirar essa e outras dúvidas a respeito do tema, além de citar os principais cuidados.
RESP: Quais são as características básicas para uma pele ser considerada sensível?
Tatiane Curi: Entre as principais características para que a pele seja considerada sensível estão a irritação e a sensação de queimação ou calor local, o repuxamento da pele, a coceira, as manchas avermelhadas, e tantas vezes descamativas, a “pinicação”e até a formação de feridas, em casos mais graves.
RESP: Posso ter uma pele normal quando criança e ela ficar sensível depois de adulta?
TC: Sim. Você pode apresentar uma pele normal quando criança e ela passar a ser sensível depois de adulta por motivos como:
- fatores ambientais: mudanças bruscas de temperatura, exposição solar em excesso, vento ou ar muito seco e poluição;
- procedimentos estéticos ou o uso exagerado e incorreto de cosméticos;
- alterações vasculares: por motivos de ingesta de bebidas como o café, os alcoólicos e consumo de temperos apimentados;
- doenças dermatológicas específicas: como a dermatite atopica, a dermatite seborreica e a rosácea, principalmente;
- alterações hormonais.
Basicamente, todas essas condições envolvem um fator em comum: a perda da integridade da barreira da pele. Ou seja, a camada de proteção da pele é rompida, permitindo uma maior reatividade e hipersensibilidade e, como consequência, uma alteração da penetração de microorganismos, desequilibrando o microbioma (flora) da pele.
RESP: O que pessoas com a pele sensível devem evitar quando o assunto é maquiagem e cosméticos?
TC: Elas devem priorizar produtos testados em peles sensibilizadas ou peles intolerantes; evitar cosméticos com muitos ativos e/ou ingredientes no mesmo produto, optar por veículos leves e calmantes, não usar opções que contenham conservantes, álcool, essências, fragrâncias e pigmentos. Um fato importante é não utilizar cosméticos vencidos. Além disso, optar por maquiagens que não sejam à prova d’água, pois estas são mais difíceis de remover e requerem maior atrito e maior quantidade de removedores.
RESP: Sobre os tratamentos dermatológicos, como laser e ultrassom, as peles sensíveis podem “responder pior” ao protocolo?
TC: Alguns tratamentos dermatológicos que rompem a barreira de proteção, e causam inflamação mesmo que controlada, ou que aumentam a temperatura da superfície da pele podem sensibilizá-la mais ainda. Sendo assim, indivíduos com a pele sensível podem responder pior a alguns tipos de tratamentos propostos. O ideal é sempre uma avaliação prévia com um dermatologista.
RESP: E ativos de skincare que podem irritar a pele sensível, quais são?
TC: Portadores de pele sensível devem evitar, além de muitos ativos na mesma formulação, ingredientes como:
- corantes artificiais;
- carmim (corante feito de insetos moídos);
- ceras de revestimento (podem ser oclusivas e causar acne);
- silicone e derivados oleosos;
- veículos alcoólicos;
- ativos como mentol e cânfora, por serem altamente irritativos;
- ácidos ou alguns derivados deles, de um modo geral, também devem ser evitados, pelo risco de sensibilização e alergias.
RESP: Quais são os melhores produtos de skincare para as peles consideradas sensíveis?
TC: Existem dermocosméticos com fórmulas específicas para as peles sensíveis. Eles costumam não possuir corantes ou fragrâncias. Os higienizadores, por exemplo, devem ser livres de conservantes ou parabenos e ter ação menos detergente e menos agressiva na hora da limpeza. Evitar sabonetes esfoliadores ou com grãos também é válido.
- Os hidratantes são essenciais para peles sensíveis. Existem vários tipos possíveis, como os umectantes, os emolientes e até com pósbioticos, que servem para melhorar e diversificar o microbioma cutâneo.
- Protetor solar é importante em qualquer pele, mas na do tipo sensível ele é indispensável. As texturas devem ser leves e não comedogênicas (não oleosas e oclusivas), sem fragrância ou o mais suave possível, além de amplo espectro de proteção (UVA e UVB).
Outra dica de skincare para sensibilizados é o uso constante de água termal. Ela acalma a pele, hidrata, melhora a vermelhidão e a descamação.
RESP: E qual a melhor temperatura da água de banho para esse tipo de pele?
TC: A melhor temperatura da água do banho para peles sensibilizadas e sensíveis são água morna e fria. Isso porque a água quente, além de alterar a barreira de proteção da pele, acaba por piorar o vermelhão, pela vasodilatação do calor. O rosto sai do banho mais vermelho, repuxando, pinicando e, muitas vezes, vai descamar futuramente.
RESP: Só a pele do rosto pode ser sensível ou a do corpo também?
TC: Tanto a pele do rosto quanto a pele do corpo podem ser sensíveis. Na maioria das vezes, peles sensíveis no corpo podem estar associadas a algumas patologias, como a dermatite atopica, a dermatite seborreica e a asteatose (ressecamento importante).
O artigo foi desenvolvido com o auxílio técnico da dermatologista Dra Tatiane Zago Curi, especialista com título pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica, pós-graduada em oncodermatologia pelo Hospital Sírio-Libanês (São Paulo).