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O professor livre-docente da Faculdade de Medicina de Botucatu, Universidade Estadual Paulista e membro da Comissão Científica da SBD Nacional, Dr. Vidal Haddad Junior, concedeu uma entrevista ao Jornal Dermatológico 211 para dissertar a respeito de um problema de saúde que muitas vezes passa despercebido, mas que é preocupante: o surto de mariposas que acarretam irritações na pele.

Qual é a mariposa responsável por quadros de irritação da pele?

As mariposas responsáveis pelo quadro de irritação da pele é a do gênero Hylesia sp., da família Saturniidae. São insetos pequenos e de cor castanha. Elas são atraídas por luzes e se chocam com esses focos luminosos, isoladamente ou em bandos. Isso ocorre, especialmente, em áreas com maior vegetação, porém também pode acontecer em cidades.

Como a irritação cutânea ocorre?

Ao se bater contra os focos de luz, as mariposas citadas anteriormente liberam pequenas “flechas” serrilhadas de seu abdômen. Tais partículas se dispersam e flutuam no ar, formando nuvens que não são visíveis a olho nu. Quando elas penetram na pele causam uma dermatite grave, de prurido intenso e pápulas eritematosas.

Quais regiões do país e épocas do ano em que esses quadros ocorrem com maior frequência? 

As mariposas do gênero Hylesia sp se reproduzem durante o verão, que é quando os surtos são noticiados. As áreas mais quentes são as mais propícias ao seu desenvolvimento, porém, os surtos podem acontecer em qualquer região do Brasil.

O que os dermatologistas precisam se atentar para fazer o diagnóstico correto do quadro?

As manifestações típicas são pápulas eritematosas em áreas expostas. Elas são acompanhadas de prurido intenso. A história do paciente, geralmente, colabora com o diagnóstico, pelo fato das mariposas serem visualizadas.

Quais são as principais vias terapêuticas para reverter tal irritação?

Apesar das mariposas não serem venenosas, o prurido extremo acarretado pelas espículas  pode necessitar o uso de corticoides sistêmicos. Não há comprovação de que existam substâncias tóxicas nas pequenas flechas serrilhadas (“flechettes”), mas, certamente, a irritação e a permanência delas na pele podem causar granulomas em alguns indivíduos.

A dermatite, no entanto, é autolimitada na maioria das vítimas e pode ser controlada com anti-histamínicos e corticoides tópicos, pois na ausência de veneno, há um processo inflamatório do tipo corpo estranho a ser controlado.

Existe alguma forma de prevenção que os médicos dermatologistas podem passar para os seus pacientes?

Os acidentes acontecem em barracas de camping, casas nas praias que ficaram fechadas em períodos de veraneio e em pessoas sob postes de iluminação. Quando existem grandes bandos dessas mariposas, as áreas urbanas podem ser invadidas, fazendo com que muitas pessoas apresentem a dermatite (são os surtos, por vezes noticiados na mídia). As “flechas” ficam no ar e se depositam em mesas, cadeiras e outros móveis, penetrando na pele das vítimas. E não são incomuns, causando surtos de dermatites durante o verão em várias regiões do Brasil. Caso suspeite de mariposas desta espécie em sua casa ou perto dela, feche as janelas, diminua a iluminação e passe um pano úmido no chão, para evitar que as cerdas sejam suspensas no ar por varredura.