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Uma vacina nova e mais eficiente contra a herpes-zóster foi aprovada pela FDA (agência americana que regula drogas e alimentos) e recomendada pelos CDC (centros de controle e prevenção de doenças do país) como abordagem preferencial. A droga tem eficácia em uma grande parte dos casos acima dos 50 anos.

A herpes-zóster é uma doença causada pelo mesmo vírus da catapora, o Varicella-zoster, que fica dormente na base dos nervos e, em momentos de imunidade baixa, é reativado e se desloca até atingir a pele.

Bolhas avermelhadas são a principal característica da condição –que também é conhecida como cobreiro. As erupções, muitas vezes dolorosas e prurientes, geralmente só aparecem de um lado do corpo, em regiões como rosto, pescoço e tronco, acompanhando o desenho do nervo sob a pele.

Os idosos e pessoas com imunidade comprometida, como pacientes com HIV ou câncer, são as principais vítimas da doença.

“O grande problema é a sequela. A pessoa pode ficar com uma neurite [pós-herpética], que é um dor crônica”, afirma Alexandre Busse, geriatra do Hospital das Clínicas (HC) da USP. “Em alguns casos é necessário tomar vários medicamentos, comprometendo a qualidade de vida.”

Atualmente, já existe uma vacina da MSD contra a herpes-zóster, que foi lançada no Brasil em 2014. Segundo os CDC, o medicamento subcutâneo reduz em 51% o risco de desenvolver a doença e em 67% a possibilidade de dores crônicas.

Contudo, por se tratar de uma vacina atenuada, ou seja, que possui vírus vivos com menor potencial infeccioso, ela é contraindicada para pessoas que estejam com o sistema imunológico comprometido, já que isso poderia causar complicações.

Dessa forma, as pessoas que mais precisam, como pacientes que tomam medicação que reduz as defesas do corpo (como esteroides) ou que têm câncer, acabam não sendo imunizadas.

VÍRUS MORTO

A nova vacina é inativada, o que quer dizer que os vírus usados estão mortos, sendo bastante improvável haver grandes complicações relacionadas à substância.

“É muito bom termos a possibilidade de uma vacina que também possa ser usada em pessoas imunodeprimidas”, afirma Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).

Mesmo com essa possibilidade no horizonte, o próprio laboratório responsável pela nova vacina não afirma de forma clara que ela poderá ser indicada para os imunodeprimidos. “Estamos fazendo nesse momento a pesquisa nessa população. Ainda não posso falar dos resultados, porque eles ainda não foram concluídos”, diz Pilar Rubio, diretora de vacinas da GlaxoSmithKline.

Um estudo realizado com mais de 15 mil pessoas de 18 países publicado no prestigioso periódico científico “The New England Journal of Medicine” mostrou que a nova vacina tem uma eficácia de mais de 90% em qualquer grupo etário a partir dos 50 anos.

Rubio afirma que uma das explicações para a alta eficácia da vacina é a presença de um adjuvante, substância desenvolvida pelo laboratório que prolonga a presença do imunizante no organismo –produzindo, assim, uma melhor resposta imunológica.

O comitê de imunizações dos CDC recomenda a nova vacina mesmo para as pessoas que já tomaram o produto mais antigo.

Entre os efeitos adversos do novo medicamento estão dores no local da aplicação, fadiga e dor de cabeça. Contudo, segundo Rubio, os sintomas são leves e não causaram maiores complicações.

PROTEÇÃO

Mesmo com a alta eficácia da nova vacina, a presidente da Sbim afirma que as pessoas não devem esperar que ela chegue ao país para procurar se proteger contra a herpes-zóster.

“Tomando a vacina que temos hoje, a proteção é bastante boa. Quando chegar a outra, muito provavelmente vamos revacinar as pessoas.”

A vacina anterior demorou cerca de oito anos, após ser disponibilizada nos EUA, para chegar ao Brasil. A GlaxoSmithKline afirma que não tem previsão de data ou preços para o Brasil e que buscará aprovações em países da União Europeia antes de submeter a papelada à Anvisa.

Outra diferença entre as vacinas é o fato de a nova precisar de duas aplicações, com período de dois meses entre elas, o que reduz a aderência dos pacientes. “Esquemas de mais de uma dose de vacina para adultos sempre são um problema”, afirma Ballalai. A especialista diz que vacinar esse público “é uma das coisas mais difíceis”.

Outro fator complicador é que a população idosa e adulta simplesmente não está tão acostumada a se imunizar. “O melhor era ser uma dose só. Às vezes as pessoas idosas têm medo de aplicar a vacina”, afirma Rubio.

A desinformação seria a principal causa da baixa vacinação de adultos. Os próprios médicos não incluem o tema da imunização durante as consultas, segundo a presidente da Sbim.

Além disso, de acordo com Alexandre Busse, do Hospital das Clínicas, pode pesar o fato de a vacina para herpes-zóster presente no Brasil não estar disponível no SUS e de não haver campanhas governamentais de incentivo.

Procurado pela reportagem, o Ministério da Saúde não havia se manifestado até o fechamento desta edição sobre campanhas direcionadas à herpes-zóster ou sobre a possibilidade de disponibilização da vacinação já existente para o público.

Herpes-zóster

Vírus Varicella-zoster causa catapora e fica pode ficar adormecido dentro do nervo. Quando ‘acorda’, causa a herpes-zóster

Doença causa erupções na pele, seguindo o nervo acometido

Outros intomas
> Febre
> Dor de cabeça
> Irritação estomacal
> Possível sensibilidade à luz

Complicações
Neuralgia Pós-H​erpética: caso haja lesão nos nervos, paciente pode ficar com dores crônicas

NOVA VACINA
Alternativa para pessoas com sistema imune frágil

Inofensivo
Pesquisadores matam o vírus, para que não exista o risco dele causar doenças

Imunização
Uma dose da vacina (com vírus mortos) é aplicada nos pacientes maiores de 50 anos

Autodefesa
Corpo reconhece o organismo estranho (antígeno) e ativa uma resposta imune

Reforço
Após dois meses, uma nova dose é necessária

Eficácia
A proteção foi acima de 90% para todas as pessoas com mais de 50 anos, em testes

Efeitos colaterais
Dores no local, inflamação, fadiga e dor de cabeça leves, que somem após 2 dias

Fonte: Folha de S. Paulo