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Mesa, instrumentos, roupas de cirurgião. Parece um laboratório de anatomia normal, exceto pela frescor excepcional dos cadáveres.

As salas do Washington Institute of Surgical Education, de Washington, D.C., contam com cadáveres mais preservados do que as universidades. A diferença se deve ao método de conservação.

Os corpos não são conservados no formol, como nos laboratórios tradicionais. Eles são congelados logo após a morte -e mantidos assim até um dia antes das aulas.

“Isso preserva as estruturas anatômicas. Na dissecação, é possível observar os vasos, ver onde passam os nervos, a gordura tem cor de gordura”, diz o médico Reinaldo Tovo, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). O formol não preserva as cores e estruturas.

Centros como o da capital americana oferecem salas, equipamentos e cadáveres para cursos de atualização para médicos já formados.

A SBD vai oferecer, em março do ano que vem, um curso de atualização em anatomia de cabeça e pescoço no local (saiba mais sobre o evento). Os participantes irão praticar aplicação de botox e técnicas de preenchimento na face em 25 cabeças de cadáveres.

O médico injeta soluções coloridas na testa ou sob os olhos. Depois disso, os rostos são dissecados. “Vamos observar o caminho que a substância percorre. Vemos onde passam os nervos, até onde podemos ir em um procedimento. Isso previne erros”, diz Tovo. “No Brasil, se você precisar de um cadáver fresco assim, tem de importar.”

DESVANTAGENS

Cadáveres frescos, porém, duram menos. Soluções que evitam o mau cheiro são utilizadas, mas nada que mantenha o cadáver longe da decomposição por muito tempo assim que é descongelado. Depois as aulas, os corpos têm de ser queimados.

Isso significa necessidade de constante suprimento de cadáveres –ou seja, custos bem mais elevados, sem falar nos gastos para manter as peças em baixas temperatura. Além disso, o congelamento não é eficiente para todas as partes do cadáver. “Ele não é ideal para a conservação do meio interno do corpo, além de que é necessária uma infraestrutura de freezers que a maioria das universidades não disponibiliza”, diz Luís Garcia Alonso, professor de anatomia da Unifesp.

“Em nosso meio, o formol é o elemento fundamental. Ele permite o uso do corpo por diversos anos. O tempo médio é de cerca de 10 a 15 anos. Depois, partes não mais utilizáveis são sepultadas.”

Há corpos no Instituto de Ciências Biomédicas da USP, porém, que estão lá há mais de 50 anos. Há ainda no país o uso de glicerina, menos tóxica e potencialmente menos cancerígena que o formol.

Nos EUA, cadáveres de quem opta por doar seus corpos e de indigentes são retirados dos hospitais por empresas especializadas, que os congelam. Elas são contratadas por centro de treinamento e universidades.

Como é muito raro que alguém precise de um corpo inteiro, nessas empresas as partes do corpo são separadas: cabeça, torso, membros…

Segundo Adaleta Sulejmanovic, diretora do centro americano, os doadores não sabem que não serão mantidos inteiros após a doação. “Mas eu também não sei se eles gostariam de saber”, disse.

Depois da prática, as partes são cremadas, e as cinzas são entregues à família. As empresas não pagam pelos cadáveres. São remuneradas apenas pelo serviço de logística. “Não posso dizer quanto custa cada peça, porque varia muito. Depende de sexo, idade, se era fumante, se realizou alguma cirurgia”, diz Mehmet Ozer, gerente cirúrgico.

No Brasil, os médicos relatam que tem se tornado mais difícil conseguir cadáveres do Serviço de Verificação de Óbitos. Com isso, a doação tem se tornado a principal fonte, mas ela ainda é pouco difundida.

A Unifesp, por exemplo, recebe em média só dois cadáveres ao ano. O valor, avalia o professor Ricardo Luiz Smith, é baixo. “Temos de ficar reaproveitando, o que reduz a qualidade do aprendizado”. Não há, no país, empresas que façam a intermediação de cadáveres.

FONTE: Folha de S. Paulo (Clique aqui e veja a matéria completa)

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