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Algumas lesões que afetam a pele e outros tecidos são chamadas de feridas complexas. Conhecê-las é essencial para evitar prejuízos na qualidade de vida

Um velho ditado popular diz que o tempo cura tudo. Talvez isso seja verdade para as “feridas do coração”, mas não para algumas feridas do corpo. Há um grupo de lesões que afetam a pele e outros tecidos mais profundos que nós, profissionais de saúde, chamamos de feridas complexas. A falta de tratamento adequado em razão do desconhecimento sobre esse problema pode provocar meses ou até anos de sofrimento. Infelizmente, essa é uma situação frequente entre milhares de brasileiros.

As feridas complexas têm origens diversas. As lesões nos pés do diabético são uma complicação comum que atinge cerca de 280 mil brasileiros com a doença por ano. O tratamento tardio dessas lesões pode ocasionar até 70% das amputações de membros inferiores por causas não traumáticas no país.

Outra ferida crônica debilitante é a úlcera por pressão, também conhecida como escara. Ela aparece sobretudo em pessoas acamadas e é o terceiro tipo de ocorrência mais notificado pelos Núcleos de Segurança do Paciente dos hospitais brasileiros.

Os traumas são mais uma fonte de feridas complexas. Acidentes de trânsito deixam mais de 160 mil pessoas com lesões graves no Brasil todos os anos. Outra preocupação são as queimaduras. Entre 2016 e 2017, o Ministério da Saúde registrou um aumento de 130% no número de episódios, que acontecem principalmente no ambiente doméstico.

As varizes, uma doença tão comum, podem gerar feridas difíceis de sarar. Entre 3 e 11% das pessoas com a condição podem apresentar alterações irreversíveis na pele e desenvolver úlceras que só cicatrizam se houver um tratamento correto.

A despeito da causa, feridas complexas exigem a avaliação individualizada de profissionais de saúde. Ignorar ou menosprezar o problema pode resultar em mutilações, infecções graves e até morte – sem contar o impacto direto na qualidade de vida. Só com uma conduta ágil e um tratamento efetivo conseguimos evitar desfechos como esses.

Diante desse grave e complexo desafio de saúde, precisamos conscientizar profissionais e a própria população. Daí a iniciativa batizada de “O Tempo Não Cicatriza“, que reúne sete entidades que envolvem médicos, enfermeiros e pacientes. Trata-se da primeira campanha nacional a abordar a prevenção e o tratamento das feridas complexas. Nesses casos, não é o tempo, mas uma terapia adequada o queconstitui o melhor remédio.

*Dra. Rina Maria Porta é cirurgiã vascular e membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, uma das entidades que assinam a campanha “O Tempo Não Cicatriza”

Fonte: Saúde