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O texto foi desenvolvido por Vidal Haddad Junior, professor associado da Faculdade de Medicina de Botucatu – UNESP, a respeito do crescente risco de acidentes envolvendo o animal em regiões de São Paulo:

Tomo a liberdade de escrever a vocês por ser portador dos resultados de uma pesquisa que impacta a população do Estado de São Paulo. Ou melhor: vem trazendo modificações na biodiversidade dos dois rios mais importantes do Estado e, em um futuro próximo, a médio prazo, trará repercussões para seres humanos (tanto os pescadores como os banhistas em áreas do Baixo Tietê, de Araçatuba até a foz do rio, em Itapura).

Registramos a presença de arraias fluviais no Rio Paraná desde 1999, oriundas de trechos anteriores à Sete Quedas. Elas progrediram no Rio Paraná após os saltos serem cobertos pelos represamentos de Itaipu. Cerca de dez anos após, toda a região do Pontal do Paranapanema estava invadida por estes peixes. Deste ponto, continuaram avançando e colonizando o rio, sendo muito comuns na região de Três Lagoas e Castilho. Em 2005, relatamos a captura da primeira arraia no Tietê, na sua foz.

O avanço delas no Rio Tietê era uma incógnita desde então. A localização das arraias é importante para a biodiversidade do principal rio de São Paulo e, certamente, também é importante para a população de pescadores e banhistas, pois são peixes portadores de ferrões peçonhentos que causam quadros extremamente dolorosos e necroses que demoram meses para se curar, retirando a vítima de seus afazeres diários.

Como as arraias fluviais podem se aproximar das margens em fundo arenosos, existe a probabilidade de acontecerem encontros negativos entre banhistas e os peixes (toda esta região apresenta atividades intensas de turismo, com praias artificiais arenosas).

A aluna Isleide Saraiva Rocha Moreira, do curso de Pós-Graduação em Animais Selvagens, sob minha orientação, desenvolveu uma tese de doutorado trabalhosa e demorada onde a atual localização das arraias no Rio Tietê foi elucidada:

Elas foram capturadas até 140 km abaixo da foz, com grande avanço desde a primeira captura, em 2005. São animais vivíparos e que não tem predadores, por serem invasoras destes ambientes. É um achado bombástico e provavelmente a maior invasão de um animal peçonhento no Estado desde a chegada dos escorpiões-amarelos, que tantos problemas nos causam.

Embora arraias fluviais não sejam agressivas e a maior parte dos acidentes ocorra quando são pisadas, estamos nos preparando para realizar campanhas de esclarecimento na região, com folhetos e palestras, buscando minimizar a invasão. 

Devemos lembrar que a progressão no Rio Tietê deve continuar. Não há razão para que pare. Áreas mais populosas no Centro e Alto Tietê devem ter arraias fluviais em breve. As campanhas devem se iniciar, continuar e influir na forma como os humanos enxergam as arraias.