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“Se a acne já mexe com a pessoa na adolescência, imagina na fase adulta?”. Essa é a primeira coisa que a representante de vendas Monica Paulo, de 51 anos, diz ao relatar seus problemas com a pele. Quando entrou na menopausa, aos 48 anos, ela decidiu implantar um chip subcutâneo que libera hormônios para minimizar os efeitos do período. Coisas boas aconteceram: a disposição, a libido e a força aumentaram. Mas outras tantas também apareceram e não foram tão positivas assim: as espinhas.

— Tive acne na adolescência e, quando coloquei o chip, elas voltaram com força, até porque eu estava num momento pessoal de muito estresse. Quando parei de usar, a situação piorou ainda mais — conta Monica. — Parecia que eu estava com uma doença contagiosa. Você se sente mal porque as pessoas nem conseguem disfarçar. Sempre me perguntavam: “o que aconteceu, você está tomando ‘bomba’? Está se tratando?”

O problema de Monica é uma realidade na vida de muitas mulheres que deixaram há muito tempo a fase da puberdade. Oscilações hormonais (por causa ou não de implantação de chips) e estresse, coisas comum do nosso tempo, fazem com que muita gente relembre alguns dos momentos mais dolorosos da adolescência, quando as erupções na pele minam a autoestima mesmo do mais seguro dos seres humanos.

Na definição clássica, acne é uma doença inflamatória (e não desleixo, que fique claro para quem acha que é apenas “falta de cuidados”), que surge por causa de uma série de condições e predisposições individuais.

— Tudo começa com o entupimento do poro, por onde sai o sebo. Algumas pessoas têm propensão a isso, daí surge o cravo — explica a dermatologista Patricia Ormiga. — Pode acontecer de as bactérias existentes na pele invadirem esse poro e causarem uma reação, a chamada espinha.

Na adolescência, a produção de sebo aumenta por causa das transformações hormonais, daí o fato de os casos mais costumeiros acontecerem nessa época. O que não quer dizer que mulheres que nunca tiveram espinhas no período estão livres de desenvolvê-las na vida adulta.

É o caso de Bruna Mantovani Pié, de 31 anos, de Campinas, que teve zero contato com a acne no auge da juventude. No entanto, quando fez 23 anos, parou de tomar anticoncepcional (ela usava contraceptivo oral desde os 17) e o incômodo veio à tona. Não se viu mais livre delas, e voltar com o medicamento estava fora de cogitação.

— A explicação dos médicos era que grande parte das mulheres adultas, na fase reprodutiva da vida, tem chance de ter acne por causa dos picos de hormônios sexuais, que podem ser controlados facilmente com anticoncepcionais — diz Bruna.

De tanto ouvir para voltar a tomar pílula, ela e uma amiga criaram um grupo no Facebook para quem busca outras formas de controle. Hoje, a comunidade “Tratando acne sem anticoncepcional” tem cinco mil participantes.

— Nós (ela e outra administradora) participávamos de um grupo sobre acne, e, em qualquer postagem que fazíamos, todo mundo respondia para usarmos contraceptivo sintético. Não aguentávamos mais aquilo, e aí surgiu a ideia de criar um lugar só para mulheres que buscam outras alternativas.

Hoje, Bruna tem uma rotina regrada de tratamento tópico, sempre com respaldo de um dermatologista, e controla a alimentação para evitar surpresas. Tudo bem que aquela história de que chocolate dá espinha não é bem assim, mas o meio médico já entendeu que alimentos ricos em gordura e açúcares podem, sim, desencadear quadros acneicos em que tem propensão genética ao quadro — dizem os pesquisadores que os genes são fatores preponderantes para o desenvolvimento das erupções.

‘Às vezes, a paciente que nunca teve acne começa por causa de suplementos que tenham hormônios associados’

– DANIELA ALVARENGA dermatologista

A dermatologista Daniela Alvarenga ressalta também que a onda de suplementação sem acompanhamento pode ser responsável por espinhas surgirem em mulheres adultas.

— Às vezes, a paciente que nunca teve acne começa a ter espinhas por causa de suplementos que tenham algum tipo de hormônio associado — explica a médica. — Pode acontecer também com polivitamínicos. Coloca-se muita coisa nas fórmulas, e todo excesso pode prejudicar algo.

Além da montanha-russa de hormônios, alimentação inadequada e altos níveis de estresse e cosméticos também podem ser responsáveis por surtos de espinhas na pele da mulher adulta. As variadas opções no mercado de beleza aguçam nossa vontade de levar para casa o que parece ser melhor, mas que nem sempre é tão bom assim.

— Muitas mulheres começam a apresentar o problema porque usam produtos que não são adequados ao tipo de pele delas. Por isso, a conversa inicial com o dermatologista é superimportante para identificar as prováveis causas — diz Patricia Ormiga.

Por exemplo, um protetor solar oleoso demais numa testa “abafada” por uma viseira ou um chapéu podem contribuir para o aparecimento de comedões. Deixar de usar o produto e a proteção física não é a solução. Existe uma infinidade de fórmulas no mercado e, com certeza, há um bloqueador certo para todo tipo de rosto. É só perguntar a um dermatologista.

Aquela história de retirar a maquiagem à noite também não é conversa para boi, no caso, não dormir. Higienização mal feita é outro fator que contribui para o problema. Até o fato de não tirar bem os resíduos do condicionador na hora do banho pode ser gatilho para espinhas nas costas, assim como hidratantes pesados demais nessa área e no colo.

— Ter braços e pernas secos não necessariamente quer dizer que a pele como um todo é seca e precisa de cremes oleosos — pondera Patricia.

Outra coisa que tem causado confusão é a expressão matte. Há centenas de opções com textura sequinha que nem sempre são ideais para peles com tendência à oleosidade.

— Oil-free ou não comedogênico são o ideal, e produtos com efeito seco não obrigatoriamente são feitos sem óleo. Eles podem, sim, desencadear espinhas. Às vezes, a pessoa vai usar uma base ou um pó achando que eles vão ajudar a esconder marcas quando, na verdade, vão piorá-las — explica Daniela Alvarenga.

Outra dica de ouro é: jamais lave o rosto em excesso. A lógica é simples: quanto menos oleosidade, mais as glândulas sebáceas trabalham, por entenderem que algo está faltando na pele. Duas ou três vezes por dia é o recomendado.

No fim das contas, ter uma rotina simples e supervisionada é a forma mais fácil de evitar uma viagem de volta à adolescência.

Fonte: O Globo