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O futuro dos tratamentos contra psoríase já começou. As drogas biológicas, que revolucionaram o modo de enfrentar a doença na última década, estão cada vez mais seguras e eficazes graças à engenharia genética.

Compostos por moléculas parecidas com proteínas humanas, esses remédios agem no sistema imune bloqueando o processo inflamatório que desencadeia a psoríase

A doença de origem desconhecida atinge até 2% dos brasileiros e se desenvolve a partir de uma reação imunológica exagerada, que leva à proliferação de células da pele. O resultado é o aparecimento de lesões vermelhas, recobertas por placas.

As drogas biológicas “param” a doença antes de os sintomas surgirem. “É como um tiro ao alvo. O remédio age no que não deveria estar lá, bloqueando a chave ou a fechadura do processo”, diz Ricardo Romiti, da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Os primeiros medicamentos biológicos contra psoríase chegaram aqui há pouco mais de dez anos. De lá para cá surgiram outros com igual princípio, melhores resultados e menos efeitos adversos.

“Como essas drogas interferem no sistema imune, há uma maior probabilidade de a pessoa ter infecções”, diz o dermatologista Marcelo Arnone, do Hospital das Clínicas de São Paulo. As mais comuns são das vias aéreas superiores, como sinusites.

O efeito colateral é menor que o das terapias anteriores, com imunossupressores como o MTX (metotrexato), que baixa a resistência e é tóxico para o fígado.

QUEM PRECISA

Nem todo o mundo que tem psoríase precisa de tratamentos sistêmicos. A maioria tem lesões leves, tratáveis com remédios de uso tópico.

Cerca de 30% dos pacientes, porém, têm crises graves, que acometem o corpo todo, ardem, coçam e atrapalham desde a prática de esportes até os relacionamentos. Para mais da metade, os tratamentos antigos não funcionam.

“Usei creme, pomada, corticoide, MTX e nada fazia efeito. Comecei a tomar o biológico há nove anos. Na primeira aplicação, minha pele ficou lisa”, diz José Célio Silveira, 57, advogado.

Além de psoríase grave, ele tem artrite relacionada à doença –quadro que se manifesta em 30% dos casos. Com o remédio biológico, a artrite foi controlada. “Estava no inferno e cheguei ao paraíso.”

A funcionária pública Isaura Soares, 55, não teve a mesma sorte. Há cinco anos, após uma crise que atingiu 95% do seu corpo -pálpebras e lábios ficaram de fora-, ela começou a usar drogas biológicas. Tudo corria bem, até que começou a ter uma infecção urinária atrás da outra.

“Tive que escolher: psoríase ou infecção? Escolhi a psoríase”, afirma. Foi só parar com o remédio que a doença voltou, e ela passou a tomar imunossupressores.

NÃO TEM CURA

A necessidade de uso contínuo, somada ao alto custo (de R$ 5.000 a R$ 10 mil por mês), é outro porém das novas drogas. Elas não estão na lista do SUS nem no rol de medicamentos dos planos de saúde. Só quem sofre de artrite psoriática tem acesso aos remédios no sistema público.

“Quem não responde a terapias tradicionais fica sem recurso. Não é só uma doença de pele, é uma doença crônica que obriga a pessoa a se esconder”, afirma Gladis Lima, presidente da associação Psoríase Brasil.
Na última semana, foi implementada uma Frente Parlamentar no Congresso, resultado de campanha da entidade. “Queremos a inclusão dos biológicos e mais atenção na rede básica”, diz Lima.

O Ministério da Saúde informou que oferece fototerapia, além de remédios como metotrexato e corticoides, e que “até o momento não foram apresentados os pedidos para a disponibilização dos biológicos no SUS”.

Raquel Lisbôa, gerente da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) diz que o alto custo e a falha metodológica de estudos apresentados pelas entidades fizeram com que a agência não incluísse os biológicos no rol de remédios obrigatórios. “Os planos não são obrigados, mas podem oferecer esses medicamentos. Isso deve ser negociado caso a caso.”

Fonte: Folha de São Paulo