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O lúpus eritematoso sistêmico é um problema autoimune que ataca principalmente rins, pele, pulmões e articulações, embora possa atingir outras regiões, como o coração. Embora não seja tão comum, seu impacto na qualidade de vida é grande. E se torna quase intransponível se o paciente não é tratado adequadamente e respeitado por quem o cerca.

A boa notícia é que, segundo Richard Alan Furie, professor do Centro de Doenças Autoimunes do Instituto Feinstein para Pesquisa Médica (EUA), o desenvolvimento de novas terapias contra o lúpus nunca foi tão intenso. Confira a seguir uma entrevista com esse renomado expert sobre os avanços para esse problema e os desafios que ainda emperram o bem-estar de seus portadores.

Saúde: O que o senhor ressaltaria de avanços nessa última década na luta contra o lúpus?

Furie: Nas minhas palestras sobre o assunto, sempre aponto três destaques. 1) O micofenolato, embora não esteja aprovado para lúpus, virou o tratamento padrão para a nefrite [processo inflamatório nos rins], segundo vários estudos. 2) O belimumabe, aprovado desde 2011 nos Estados Unidos, fez história como o primeiro remédio aprovado para lúpus via uma pesquisa clínica randomizada. Agora, várias companhias tentam seguir essa tendência. 3) Embora seja uma droga antiga, a hidroxicloroquina recebeu o apoio de várias evidências científicas para ser usada em todo paciente com lúpus.

Saúde: As drogas modernas oferecem quais vantagens em relação aos esteroides?

Furie: Os esteroides, usados para artrite reumatoide em 1948, foram introduzidos contra o lúpus subsequentemente. E os pacientes melhoraram muito a partir dessa prescrição. Mas eles não eram a única resposta para o problema, até porque há efeitos colaterais para o uso crônico de esteroides e eles não controlam automaticamente toda a atividade da doença. Ou seja, havia uma necessidade para terapias mais seguras e efetivas. Medicações como metotrexato e azatioprina cumpriram algumas dessas necessidades. Aí veio a ciclofosfamida para os pacientes mais graves. E finalmente o belimumabe. Além disso, outras drogas não formalmente aprovadas para o lúpus podem ajudar em várias situações. Mas a busca por opções ainda mais seguras e eficientes continua.

Saúde: O que espera no futuro próximo para o tratamento de lúpus?

Furie: Atualmente, há um desenvolvimento sem precedentes de drogas para esse problema. A comunidade espera que alguma dessas promessas chegue a ser aprovada para uso. E precisamos de medicamentos para a nefrite do lúpus — há uma série de pesquisas no momento.

Saúde:  As cantoras Selena Gomez e Lady Gaga anunciaram ter lúpus, um fato que explodiu o número de procuras na internet para essa doença. Como o senhor vê esse fenômeno?

Furie: Eu acho que é difícil para um paciente falar de uma condição médica para o público. Assim, essa divulgação por parte de celebridades é excelente, porque coloca o foco na doença e permite uma maior educação sobre ela. Todo mundo sabe o que é câncer, diabete, aids, mas vários não fazem ideia do que é o lúpus. Isso mesmo sendo um problema que ameaça a vida e que geralmente afeta mulheres jovens. Pacientes e o público em geral precisam conhecer mais essa enfermidade e o seu tratamento.

Saúde: Há uma associação entre lúpus e ansiedade. Qual o impacto dessa doença na saúde mental?

Furie: Qualquer doença afeta a qualidade de vida e o lúpus não é exceção. O que é um pouco diferente nesse caso é a idade do paciente. Uma pessoa na casa dos 20 anos espera ser saudável. Já é difícil lidar com os desafios do dia a dia nessa faixa etária, então imagine fazer isso com uma doença que causa cansaço, dor e vários outros sintomas. Lidar com essas questões não é tão fácil. Educação, grupos de apoio, suporte familiar e de amigos, consultas com psicológicos, psiquiatras e assistentes sociais e medicações estão entre as alternativas para amenizar os efeitos do lúpus na saúde mental.

Saúde: Qual o maior desafio ao enfrentar essa doença no dia a dia?

Furie: Eu diria educação e adesão aos remédios e às consultas. O mais frustrante para mim é quando o paciente deixa de me visitar como deveria. Eu consigo entender a negação e necessidade de melhores drogas, mas é particularmente incômodo quando pacientes não seguem conselhos dos doutores e não retornar regularmente para o tratamento.

Fonte: Portal Saúde