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Desde a adolescência, a modelo britânica Louisa Northcote teve de aprender a lidar com as oportunidades perdidas por causa da acne. As agências lhe diziam: “vá para casa, limpe sua pele e depois volte”, como escreve em seu perfil do Instagram.

“Eu queria que fosse fácil assim, mas é um esforço diário que cobra o preço tanto na saúde mental quanto na confiança, especialmente ao lidar com os garotos”, disse.

Ela se tornou vegana, parou de consumir café e pratica exercícios –não houve solução simples para evitar as erupções ou os apelidos: cara de pizza, de cratera, sebosa.

Querendo minimizar o sofrimento de quem tem acne, ela lançou recentemente, em parceria com a fotógrafa Sophie Harris-Taylor e a revista de moda i-D, a campanha #freethepimple.

A hashtag pode ser traduzida livremente como “liberdade às espinhas” e se une a outras iniciativas de positividade corporal, que visam reduzir o preconceito e a falta de representatividade sofrida por quem tem corpos que divergem dos padrões vigentes no mundo da beleza.

Harris-Taylor também está conduzindo o projeto Epidermis, no qual busca reduzir o estigma relacionado às doenças de pele.

“Sou de uma geração que busca se expressar e mudar. Sofro de acne, logo não sou perfeita, mas tudo bem. Passei tantos anos escondendo-a, com aquilo afetando meu dia, minha vida e minha saúde mental… Agora eu aceito a acne como parte de mim. Sonho com o dia em que uma modelo com acne apareça em revistas”, escreveu Louisa, que já havia abordado a questão na última edição do reality show Britain’s Next Top Model, do qual participou.

O mundo pode não ser o que Louisa idealiza, mas já houve mudanças. Um exemplo disso é o sucesso da modelo canadense Winnie Harlow, que tem vitiligo, doença na qual a pele perde pigmentação em algumas áreas.

Para Andréia Miron, pesquisadora de comportamento no universo da beleza, iniciativas ligadas à positividade corporal estão principalmente relacionados aos millenials (nascidos próximos à virada do século), que não só questionam e adotam um discurso de inclusão como pleiteiam mudanças em diferentes fronts no mundo da moda e da beleza e também em empresas e na política.

“Apesar da força da indústria de maquiagem, nunca se falou tanto de beleza natural. Esses movimentos levam a mudanças dos cânones da beleza, de raiz grega. Há uma desconstrução dos padrões simétricos, da ideia de beleza como sinônimo de bondade.” Tipo a mocinha bela e a vilã com verrugas.

Críticos, porém, costumam bater na tecla da saúde: ao estimular a aceitação de pessoas gordas ou com doenças tratáveis, como a acne, os militantes estariam, no fim das contas, fomentando uma piora da saúde da população.

A obesidade, por exemplo, está ligada a maior incidência de alguns tipos de câncer e de doenças cardiovasculares.

No caso da acne, a médica Alessandra Romiti, da Sociedade Brasileira de Dermatologia, diz que se trata de uma condição inflamatória que afetará mais de 80% das pessoas algum momento da vida. A condição muitas vezes é crônica, mas sempre é tratável, seja com medicamentos orais, antibióticos, sabonetes, cremes ou limpeza de pele.

Comum na adolescência, a doença nem sempre é bem resolvida por falta de adesão ao tratamento, diz Romiti.

Segundo ela, a doença ainda é limitante e pode afetar a imagem das pessoas em uma entrevista de emprego, por exemplo. E é isso que o movimento #freethepimple está tentando mudar.

Fonte: Folha de São Paulo